É interessante como se definem fenómenos como «transições traumáticas» de acordo com as suas circunstâncias. Nota-se que existem um evidente refinamento da análise quando:
- Se considera uma «transição traumática», a passagem de crianças com 10 anos do 1º para o 2º CEB, porque se rompe a relação afectiva estabelecida com o espaço único da sala de aula e um professor, passando para um espaço mais plural e para uma relação pedagógica mais diversificada. Mesmo quando isso acontece no âmbito de um mesmo agrupamento, entre escolas com algumas centenas de metros de distância e mantendo-se globalmente o mesmo grupo-turma.
- Não se considera uma «transição traumática» a passagem de crianças de 6 anos da escola da sua pequena aldeia para uma escola maior, quantas vezes a dezenas de quilómetros de distância, implicando uma deslocação do seu espaço de vivência quotidiana durante um período que pode chegar a 10 horas, levando-a para um espaço desconhecido e forçando-a a integrar-se num grupo mais amplo e desconhecido, quantas vezes com costumes e rotinas divergentes.
Claro que muito se poderia dizer sobre esta forma de demonstrar preocupação pelo bem-estar das crianças/alunos e sobre a coerência que lhes está subjacente e que existe (a existência de um trauma e a ausência de outro têm implicações orçamentais concordantes). Assim como se poderiam repescar declarações de alguns protagonistas muito preocupados com uma das transições, mas manifestamente menos activos na prevenção da outra.
Mas isso seria pedir muito, certo?
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